Conto extraído do livro "Pelo Buraco da Fechadura", de autoria do poeta e escritor Jaeder Teixeira Gomes.
BOM DIA, DOUTOR
O doutor vinha pelo corredor do Pronto Socorro em sentido contrário ao meu. Como é imperioso nessas situações, aguardei o momento em que nossos olhares se cruzariam para cumprimentá-lo, ainda que fosse com um trejeito de cabeça ou um corrugar de testa. Surpreso constatei, porém, que ele preferiu ao meu cumprimento, observar o voo da sua mosca imaginária no espaço à sua frente.
Senti-me como que de mão estendida, segurando um doce que se oferecia. Fosse um maltrapilho qualquer a se comportar dessa forma, julga-lo-ia tímido, adjetivo que não costumamos emprestar a nenhum cidadão bem sucedido na vida. Mas o estereótipo não é o tema em questão e ficará para outra oportunidade.
Nossas ideias precisam do cruzamento com a dos nossos semelhantes para vingarem e darem bons frutos. Sozinhas, tornam-se híbridas, geneticamente inúteis. Daí a nossa vocação natural para a interação social. A vida não tem a consistência firme e definitiva da batata, mas a dinâmica brincalhona da cebola. Nossa história vivencial é construída com a sobreposição de momentos e ignorar as oportunidades é empobrecê-la definitivamente. O meu doutor não teve tempo para o meu “Bom dia”. Teria ele em mente um complicado tratado de medicina ou a evolução clínica dos últimos pacientes? O certo é que ele ignorou solenemente a minha presença, em dissonância com a forma cordial de clinicar.
Os corredores da vida são generosos e não medem nossas oportunidades. Daqui a pouco eles nos colocam frente a frente de novo, só para ver como evoluímos. Aí então, poderemos ter uma crônica a menos e dois sorrisos a mais.
Parabéns tio Jaeder!!!
ResponderExcluirObrigado Jaeder(do seu juquinha gomes),como é bonito vermos vermelhenses igual ao senhor.fique com Deus.
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