Por Nélio Azevedo
Essas manifestações têm algumas características interessantes, parecem brotar do nada e ganham corpo nas ruas; não têm uma liderança definida nem representantes de partidos políticos ou entidades sindicais; não possuem uma pauta de reivindicações muito clara nem um endereço único. Podem ser direcionadas para os três níveis de poder, o municipal, o estadual e o federal.
Nascidas das manifestações pelo passe-livre e protestos contra o aumento do preço das passagens de ônibus em Porto Alegre embaladas pelos arroubos patrióticos de uns e pela desconfiança de outros, acabou por se estender por todo país. Essa demanda inicial já há muito foi substituída ou associada a outras e culminam com a exigência de mais respeito à população no que tange a administração da coisa pública e ao atendimento das necessidades básicas da população.
Temos sido desrespeitados pelos nossos políticos e administradores desde que os primeiros portugueses aqui chegaram, criando um ambiente favorável à revolta ao longo de cinco séculos; algumas entraram para a História e construíram ícones cultuados até os dias de hoje. Agora a coisa é um pouco diferente, não tem nome, sobrenome nem profissão para nomear esses milhões de brasileiros que se lançam nessa caminhada com uma palavra de ordem única: Basta!
Teremos que lutar para que as rédeas do poder se voltem para as nossas mãos, pois, temos errado constantemente quando delegamos esse poder aos políticos. Ou teremos outros políticos ou teremos nós que assumir o comando das nossas vidas e dos destinos da nação. Isto trará uma enorme responsabilidade, já que esse mando nunca esteve realmente nas mãos da população.
Essa falta de líderes impossibilita o diálogo e a falta de uma pauta definida de reivindicações cria o medo do movimento se esvaziar ao longo do tempo e, teríamos perdido uma oportunidade valiosa de conquistarmos alguma coisa; pior seria se um picareta do naipe de um Fernando Collor aparecesse e se candidatasse a líder. Somos um povo sem líderes, sem respeito por nós mesmos e acostumados a ser tratados como coitadinhos; tangidos pelo cabresto. Estamos sempre esperando que a boa vontade dos que comandam nos deem alguma coisa para que não tenhamos que gritar pelos nossos direitos nem assumirmos a responsabilidade das nossas escolhas.
No fundo, acho que a pauta de reivindicações é simplesmente tudo que nos foi negado até hoje, não temos uma educação de qualidade, não temos segurança, a maioria de nossas cidades carecem de infraestrutura não temos saúde nem temos perspectivas futuras que nos façam esquecer o aqui e agora que se construiu com essa onda consumista. Onda consumista no seio de uma sociedade pobre só gera endividamento e troca de valores por espelhos de cristal líquido e colares de faz de contas coloridas pelo neo e o led dos avanços tecnológicos.
Senhores políticos oportunistas de plantão, não tentem fazer desse movimento um palanque para seus intuitos mesquinhos e pessoais, estamos cansados disso e, se tiverem coragem, aliem-se ao mar de anônimos que engrossam essa fileira, como alguns artistas que carregam junto com o povo a bandeira que é do povo brasileiro.
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