domingo, 29 de maio de 2011

E o Vento Levou...

Por Nélio Azevedo

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Vocês se lembram de quando a gente ia ao cinema, que era uma das poucas opções de diversão? A gente saia do cinema, (que não era dentro de um Shoppin’ center) satisfeito e era comum as pessoas conversarem a respeito do filme. Alguns filmes marcaram nossas vidas, desde a infância até a vida adulta.

Movimentos vanguardistas do cinema francês e italiano brindaram-nos com verdadeiras obras primas, cinema para pensar e curtir; cultura na telona capaz de formar opinião e ditar comportamentos. Naquela época, até o rico cinema norte-americano produzia boas coisas, ainda não estava impregnado de bobagens e fazia filmes para adultos também.

O cinema nacional também teve seu movimento, o Cinema Novo, não fez feio, revelou grandes atores e grandes diretores, apesar da censura e das limitações financeiras, fizemos sucesso em Cannes, em Berlim e outras praças.

Hoje o que temos é uma parafernália digital que chegou ao cúmulo de substituir os atores de carne e osso por atores virtuais, tirando a arte, sobra pouco. Por outro lado, a interação entre pessoas e bonecos de bits tem produzido verdadeiras obras primas com os desenhos animados.

É triste ver os rumos que a indústria cinematográfica mundial tomou, os ricos estúdios norte-americanos encontraram um filão inesgotável na produção de filmes para adolescentes em que só precisa ter pancadaria e destruição de veículos em altíssima velocidade; e, tiros, muitos tiros, gente morrendo igual mosca.

Antigamente o mocinho era um cara correto, bem vestido e incorruptível, agora a coisa é diferente, o mocinho pode ser um detestável ladrão, um assassino contumaz, um espião matador ou um torturador confesso; no final, seus crimes se justificam pela lógica de que todos os mortos e roubados mereciam. O crime do ofendido é aceito pelo simples fato de que ele sofreu coisa parecida, o conceito de justiça agora é outro. É a arte copiando a vida onde o Estado mata e tortura em nome de sua segurança e, aí de quem se colocar no caminho dos mocinhos da telona ou da vida real.

Nunca se viu tanta bobagem, tanta falta de imaginação, tanta violência, tanto desrespeito à lei e às pessoas, principalmente com as mulheres. Não foi à toa que o Oscar foi para o cinema inglês e o Ouro de Cannes para um quase desconhecido do grande público. Temos assistido com pesar as intermináveis continuações de duros de Matar, Velozes e Furiosos, Piratas do Caribe e Jason Bourne, uma esperteza estampada na última cena, um indício certo de que virá uma continuação e, uma fábula de dinheiro que enriquece ainda mais desde vampiros bonzinhos a matadores profissionais arrependidos.

Só mesmo quem tem verdadeira paixão pelo cinema é capaz de perceber que existe vida inteligente nos estúdios, temos alguns exemplos de filmes com uma nova proposta, uma nova técnica onde os valores são outros, o cinema árabe, principalmente o iraniano, tem nos brindado com verdadeiras obras de arte.

Agora descobriram os diretores brasileiros que são convidados para dirigir Robocops e outras refilmagens de antigos sucessos, não se iludam, isso não é o reconhecimento do valor deles, é uma forma de premiar quem conseguiu copiá-los tão bem que agora podem fazer parte do time principal, com todos os defeitos e todas as virtudes da grande indústria cinematográfica dos Estados Unidos.

Um comentário:

  1. É triste perceber que um tópico como esse não tenha recebido um comentário sequer, mas Nélio, podes crer que mais uma vez - para não perder o costume - você foi certeiro em suas observações. Mas já cantava o Sílvio Britto: "Parem o mundo que eu quero descer".

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