domingo, 16 de dezembro de 2012

Monstro?

Por Jaeder Teixeira Gomes*

O rapaz resolveu brincar de matar crianças. Pegou suas armas, com elas tirou sua própria mãe do caminho e se dirigiu à escola onde ela trabalhava. Lá, foi abatendo os garotos, enquanto teve munição, reservando apenas a última, para si mesmo.

Após a digestão da surpresa, a reação mais urgente da sociedade é rotular esse indivíduo e isolá-lo para que se transforme numa figura excêntrica e única, o que lhe devolve, não a paz, mas a acomodação necessária à retomada da rotina.

Entendemos os comandos de um veículo e procuramos mantê-los em bom funcionamento, mas não damos a mesma atenção ao cérebro humano, onde nascem todas as nossas atitudes. Brincamos com o nosso cérebro e o mantemos sobrecarregado com entulhos conceituais que ele não entende como tal e se esforça por processá-los.

Desprezamos as manifestações do cérebro, exigindo que ele trabalhe estrangulado a fim de atender a nossas fantasias e até nos divertimos com seus pequenos descuidos. Mas quando ele se engana de verdade, seu hospedeiro é discriminado, classificado como demente e isolado. Às vezes pode ser antes de um prejuízo maior, às vezes não.

Penso que o cérebro é o portal do espírito. É ele que seleciona, aprova ou desaprova, permite ou contém, abomina ou crê. É nele que mora o discernimento que opera o homem. O resto é engenhoca. Como o cérebro sabe que somos movidos por impressões mais diversas e furtivas, ele não entende imediatamente o nosso comportamento como um padrão a ser oficializado. Mas se lhe damos uma ordem de forma continuada, ele assimila como um padrão urgente e confiável e passa a usá-lo como modelo para seus comandos, desconhecendo outros conceitos formatados na sociedade em que vivemos.

*Escritor e Poeta

Um comentário:

  1. Nélio disse:
    Caro amigo, Jaeder, esse episódio ocorrido na cidade de Newtown é só mais um, daqui alguns dias eles nem se lembraram mais do ocorrido e seguirão suas vidas. Já se acostumaram com isso, assim como os moradores de favelas e comunidades brasileiras que enterram seus filhos adolescentes, negros e semianalfabetos e pobres; vítimas da violência que atinge de forma terrível essa parte da população. A grande diferença é que lá são filhos de todas as classes sociais, entretanto, nos EUA as crianças e adolescentes estão em risco de vida o tempo todo, aqui são os que não vão à escola, lá os que vão. Assim como os becos e vielas das comunidades, as salas de aula das escolas americanas são o campo de caça desses predadores sociais. Triste ver que isso não comove mais as pessoas nem lá nem aqui.

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