segunda-feira, 5 de março de 2012

Política é guerra

Por Eduardo Guimarães

políticaAcostumamo-nos a pensar na política como uma estrada esburacada e pedregosa por onde transita a democracia, mas, em verdade, ela não passa de um preço que se paga para viver no regime democrático, pois é uma atividade intrinsecamente vil, ainda que imprescindível.

Vemos políticos se portando como lordes ingleses em relação aos adversários e muito mais em relação aos correligionários, ao menos publicamente. Entretanto, isso não impede que mandem a fleuma para o espaço quando lhes convém.

Essa imagem de civilidade e respeito mútuo que os políticos tentam passar à sociedade é um biombo para uma atividade repleta de jogadas baixas, de covardia, de egolatria, de mentiras, de perversidade, de mesquinhez e, acima de tudo, da mais deslavada hipocrisia.

Mas as pessoas se esquecem de que os políticos não vieram de Marte, de Vênus ou de outra dimensão. Eles saem do seio do povo e, quer queiramos quer não, são um retrato da sociedade que os elege. Isso quando há democracia – veja você, leitor.

Quando não há um sistema para excluir setores da sociedade da representação política – fenômeno que subverte o conceito de democracia –, os partidos, seus eleitos e as militâncias se constituem em mera amostragem do tecido social. E essa é a verdadeira democracia.

Se prevalecer esta tese – e, na opinião deste que escreve, prevalece –, não será bonito o retrato deste povo. Todavia, podemos nos consolar com o fato de que em praticamente qualquer sociedade a política é a mesma guerra que se vê no Brasil.

Ao contrário do que se pensa, os embates políticos mais duros – e, muitas vezes, os mais sujos – são travados, primeiro, entre os grupos políticos e em privado. Só depois de estabelecidas as estruturas de poder intrapartidárias é que os políticos passam a se engalfinhar publicamente.

Entre os grupos políticos é que começa a luta dissimulada, ou nem tanto, pelo protagonismo. Talvez este seja o estágio mais duro da política, pois aqueles que deveriam ser pares chegam a usar, sem hesitação, golpes que hesitariam em usar contra adversários declarados.

A diferença da política para a guerra é a de que a primeira não virou a segunda, ainda que ambas sejam faces da mesma moeda. No estágio político puro, portanto, os golpes são contra a imagem dos adversários do seu ou de outros grupos. Quando tais ataques “evoluem” para a violência, aí a política também “evolui” e vira guerra declarada.

E o pior é que ninguém foge da política. Pode-se fugir da partidária, mas não se foge da política que fazemos em nosso cotidiano em família, entre amigos ou no trabalho.

Estamos sempre buscando uma condição superior na hierarquia social ou na pública e quem se interpõem em tal busca acaba tendo que ser anulado, e não se anula um adversário usando flores e beijos…

Impressiona que, com tantos avanços tecnológicos que o homem logrou no curso da história, tão pouco tenha avançado em termos de organização social e política. Nesta última, aliás, foi onde logrou menos. Nesse ponto, estamos onde estávamos há pelo menos cem anos.

A conclusão é inescapável: um sinal de que o homem se civilizou um pouco mais só virá no dia em que surgir uma forma nova e menos vil de organização social e política, pois a forma atual nos mantém em um conflito permanente e irracional com os semelhantes.

Fonte: Blog Cidadania.com

3 comentários:

  1. Prezado Eduardo Guimarães,quanta verdade vc escreveu...é isso mesmo que passa no coração do cidadão íntegro,honesto,conhecedor de seus deveres e direitos,nos momentos de ganância e falta de respeito por quem os elegem,os políticos-representantes do povo-viram aves de rapina furiosas entre si,depois, na maior falta de pudor,se mostram "finos",democráticos,preocupados com o bem estar do país.Desculpe-me aproveitar suas palavras para expressar meu desabafo,mas o fato é que,há alguns anos resolvi participar e militar partidariamente da política:vi, ouvi coisas que me escandalizaram,então,como não sou de cruzar os braços,"saltei fora"(covardia!?).Hoje faço politíca em grupos sociais,tentando passar para as pessoas como exercer sua cidadania e exigir seus direitos sem se "sujar".

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  2. Não há como se divorciar da política, pois se não “mexemos” com ela, ela “mexe” conosco.
    A palavra “política” tomou uma conotação pejorativa desde que nos desinteressamos do gerenciamento dos expedientes que nos dizem respeito. Este desinteresse atende aos políticos profissionais, nos afastando dos centros de decisões para que reinem sem interferências. Nós nos acostumamos, então, a deglutir espetáculos prontos e cimentamos nossa preguiça ideológica.
    Os partidos políticos, se se levassem a sério, seriam entidades dotadas de um estatuto que se cumprisse, onde poderíamos buscar as diretrizes que mais parecessem com o nosso modelo de política. No entanto, militando nos partidos, o que vemos são os interesses individuais da liderança dando as cartas diante de uma militância desorientada. Essas lideranças arrebanham uma militância entusiasmada em nome de um objetivo comum. Quando seus interesses se chocam, abandonam a causar e se introduzem por capilares de difícil equação, deixando órfãos seus seguidores.
    No meu tempo de garoto a contenda era entre a UDN e o PSD. Veio o tempo negro da ditadura militar que criou a ARENA, partido dos militares e o MDB, partido de oposição, para descaracterizar o estado de ditadura. Com a volta do pluripartidarismo, a ARENA virou PDS (depois PFL, depois DEM)e o MDB virou PMDB. Em 1980 surgiu o PT nos movimentos sindicais das portas de fábricas. Parece que entenderam que este era o perigo a ser combatido e se uniram contra ele. Ainda hoje, (06/03/2010) ouvi uma entrevista do ex-governador dizendo que onde os “aliados” estiverem disputando entre si, o PSDB se afasta e onde o PT estiver disputando, entra para reforçar o adversário. (Aliás aqui no blog está uma matéria a respeito).
    Penso que este tipo de disputa pela cor da camisa deveria focar restrita aos gramados de futebol, onde a rivalidade pelo nada, impera efervescente. Política é muito mais do que isto. Política é o preço do pão, da passagem de ônibus, é a manutenção da infra-estrutura das nossas ruas e estradas, é o salário dos professores, é a chamada ao povo para que exerçam a sua cidadania e cumpram seus deveres de cidadãos, não sujando suas ruas, não atirando objetos nos cursos d’agua.
    Jaeder- Timóteo

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    1. Errata:
      Onde se lê - 06/03/2010 (penúltimo parágrafo)
      Leia-se - 06/03/2012

      Onde se lê - focar (Último parágrafo)
      Leia-se - ficar
      Enganos meus, claro.
      Jaeder - Timóteo

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