sábado, 18 de fevereiro de 2012

O medo do aborto

Por Nélio Azevedo

Quando eu era criança pequena em Raul Soares nos idos de 1950/60, iniciaram-se os debates acerca da implantação da Lei do Divórcio no Brasil, eu e meus colegas de escola pensávamos que ao ser aprovada a tal lei todos os casais seriam obrigados a se divorciarem e, quem o fizesse, estaria condenado ao mármore fervente das prefundas do inferno. A desinformação a respeito do tema foi de responsabilidade da Igreja católica, que não tendo costume de discutir certos assuntos, impôs sua ótica retrógrada à população, já que era hegemônica naquela época.

Nos dias de hoje, ao ser nomeada para a Secretaria de Políticas Para as Mulheres, Eleonora Menicucci, virou o Judas a ser malhado antes do Sábado de Aleluia. O atraso das mentalidades reinantes nas cabeças daqueles que só veem vida no feto e nenhuma na mãe que sofre o aborto nas mãos de carniceiros de plantão, são os mesmos que gritam do plenário contra sua nomeação e pensam que o único assunto que se vai deliberar naquela pasta seja a questão do aborto.

Quanto atraso, quanta ignorância escorada por crenças religiosas que não se aplica a todos, essa bancada evangélica deveria então, propor uma discussão mais ampla do assunto e não varrê-la para debaixo do tapete, criando um verdadeiro tabu em torno do tema que ninguém quer admitir sequer que exista a não ser nas páginas policiais e, que as consequências são os números absurdos de casos em que a mãe também morre vítima da falta de assistência médica adequada. Existem milhares de pessoas recorrendo ao aborto todos os anos no Brasil, e a hipocrisia é o anestésico que se usa nessa prática, só que ela é dada na população e nos governantes.

Essas pessoas se negam a uma discussão em torno do problema de saúde que essa prática acarreta, só falam do pecado, do assassinato do feto e o resto da população que se dane se não veem o problema através do mesmo ponto de vista deles. O certo é que milhares de pessoas recorrem a essa pratica em clínicas clandestinas de norte a sul do país e poucas entidades oferecem algum esclarecimento a elas. Essa prática é fruto da falta de orientação e de uma política de saúde aliada a um controle de natalidade que ponha freio nessa prática.

Não sou a favor de que a pratica de aborto seja usada como única solução contraceptiva ou de controle de natalidade, mas, alguma coisa melhor do que condenar ao fogo do inferno ou às mãos de pessoas inescrupulosas que utilizam métodos inapropriados e realizam o aborto a revelia da lei e do julgamento moral de quem quer que seja. O tema merece uma discussão mais ampla e que envolva o maior número de pessoas que representem de fato a sociedade, não uma meia dúzia de representantes de grupos religiosos, (ainda que fossem seiscentos), eles não podem falar por uma nação inteira, onde a liberdade religiosa permite a cada um acreditar no que quiser ou mesmo não acreditar em coisa alguma, só na lei que está acima de todos, inclusive das religiões.

13 comentários:

  1. Caro Nelio o aborto nao e questao de saude publica e sim questao de vida,nao podemos descartar a vida humana como se fosse lixo muitas vezes por falta de irresponsabilidade de vidas desrregradas que acho que ai sim as leis poderiam ajudar e muito se elas realmente fossem cumpridas,mas se tratando de Brasil e mais facil aprovar o aborto do que educar o povo.

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    1. No meu modo de ver, é assunto de saúde pública, sim. O que o Nélio e uma parcela da sociedade quer mesmo é que o assunto aborto seja amplamente discutido pela sociedade para que se chegue a um consenso em que não se penalize nem o feto, nem a mãe. Não podemos tapar o sol com a peneira. É do conhecimento de todos que o aborto já existe no Brasil há muito tempo, só que realizado em clínicas clandestinas, sem nenhum controle, onde a taxa de mortalidade é muito grande, devido à precariedade do atendimento. Então, o que se quer realmente não é liberar o aborto e, sim, legaliza-lo para que se evite tantas mortes. Mas essa legalização não quer dizer que todos que quiserem abortar, poderão fazê-lo. A mulher que se propuser a realizá-lo, terá que passar antes por uma série de profissionais de saúde que irão avaliar os riscos e se realmente haveria a possibilidade da realização desse aborto, porque o verdadeiro objetivo dessa legalização é salvar vidas e, não, matar crianças. Precisamos evitar que mais mulheres morram em consequência dessa prática ilegal e improvisada. Muitas futuras mães costumam abortar por falta de uma orientação adequada e é esse um dos objetivos da proposta da legalização do aborto. Essa proposta não está a favor do aborto e contra a vida, mas procurando discutir a fundo o assunto para que se encontre uma maneira de evitar tantas mortes por desinformação. O aborto, entendo, só deve ser praticado em situações extremas e amparado em leis que regem o respeito à vida e aos bons costumes.

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    2. Nélio,essa questão do aborto não está sendo discutida neste governo porque a presidente, na época da campanha eleitoral, fechou um acordo com as lideranças religiosas para não aprovar a instituição do aborto no Brasil. Isto é fato amplamente divulgado e é por isso que a Ministra Menicucci não pode aprofundar o assunto, tendo que guardar para si mesma as suas convicções.

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    3. Pelo que me consta, saúde pública é o meio que se usa para cuidar da vida.

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    4. E é justamente isso que estamos discutindo. Preservar a vida das mães que pretendem abortar, evitando que ela caia nas mãos de alguns carniceiros. A maior resistência que esse assunto enfrenta é que ele está sendo encarado apenas por uma ótica (a religiosa), e as perspectivas para a discussão sobre esse tema são inúmeras. Nenhum líder religioso tem a outorga divina para decidir sobre a vida, pois esse é um assunto que diz respeito a todos, sejam religiosos, ateus, agnósticos, espiritualistas ou não, e serão todos esses, municiados de argumentos convincentes e convictos de sua crença é que terão o direito de decidir sobre isso.

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  2. Pascoal, certa vez fui alugar um imóvel em Teófilo Otoni, de um médico, para a CEMIG, e para surpresa minha quando entrei no imóvel lá funcionava uma clínica, se é que poderia se chamar assim, de aborto clandestina. Paredes sujas de sangue, macas enferrujadas, um traste de cama, banheiro(?). Reformado e pintado, seria o imóvel ideal para o que precisavamos, mas não tive coragem de aluga-lo.

    Paulão-Ipatinga

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    1. Este tema é tabu, pois virou moeda de troca para ganhar eleição. Enquanto isso, espaços clandestinos proliferam pelo Brasil afora...

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    2. A decisão, na época, não foi bem uma moeda de troca. Não havia outra alternativa para a candidata a não ser concordar com a exigência dos religiosos, em virtude da avalanche de acusações infundadas sobre o verdadeiro sentido do que seria a legalização do aborto. Antes de se discutir essa legalização, o povo (infelizmente inculto e de fácil manipulação), deveria ser esclarecido sobre o que realmente se pretende com essa legalização. Só depois, então, partir para uma discussão ampla, com a participação de todos os setores da sociedade.

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  3. ESTE NÉLIO DEVIA SE CHAMAR "NERO"
    ELE QUER BOTAR FOGO NO ASSUNTO KKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!!!

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    1. Olá, anônimo. Eu não quero botar fogo no assunto não, eu quero por fogo é nas pessoas, para que aqueça o coração delas e elas acordem para o problema, não só a quetão do aborto, mas todos os outros assuntos pertinentes e relacionados com o viver das pessoas.
      Essa omissão é que dá lugar para que os espertos transformem os problemas inerentes de uma sociedade em construção se transformem em mercadoria de troca por cargos públicos e votos. Todos somos responsáveis e, penso que a minha parte tenho cumprido, não só escrevendo, mas, me posicionando verdadeiramente. As pessoas deveriam descer do muro ou parar de se esconder atrás dele, isso diz respeito à todos nós.

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  4. Carlos diz: Não concordo com a opinião desse cidadão, o aborto com exceção dos casos que a lei preve, deve ser considerado crime hediondo, ninguem tem direito de cercear uma vida por conta de um ato irresponsavel, ja que existe tantos meios para se evitar uma gravidez indesejada. Nunca ouvi dizer que alguem morreu por deixar de fazer sexo vez ou outra. Por isso que o nosso pais esta cada vez pior, o nivel moral e intelectual cada vez mais baixo, se não respeitam o direito a vida vai respeitar o que?

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    1. Nélio disse: Olá, Carlos. Como você pode constatar pelo texto que escrevi, eu estou chamando à atenção para um fato em torno da nomeação da Eleonora Menicucci para a tal Secretaria e da reação de um grupo de parlamentares - a tal bancada evangélica - que se posicionou contra e ameaçou retirar o apoio político ao governo da Dilma. Chamo à atenção tambem para o fato de que não poderá ser um pequeno grupo que irá decidir para um páís de 200 milhões de habitantes o que se fará em relação ao problema relacionado com o aborto. A outra coisa que eu coloco é a questão de que leis existem, não sei se é crime ediondo, mas ao que parece, as pessoas não ligam a mínima para ela, o aborto continua a ser praticado e mães continuam sendo mortas nas mãos desses carniceiros. A minha proposta é que esse assunto deveria ser discutido de forma mais ampla através dos vários seguimentos que representam a sociedade como um todo. Que todos pudessem manifestar e dar sua contribuição na resolução do problema que a meu ver é de saúde, não de polícia. Basta de autoritarismo e hipocrisia diante de uma questão tão importante. Você fala de direitos e de irresponsabilidade, eu também.

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  5. Acabei de chegar a uma outra conclusão a respeito da legalização do aborto no país. A minha proposta seria a de se discutir amplamente o assunto com a sociedade a fim de que se chegasse a um consenso, e, só depois, a decisão fosse tomada. Mas, um peso muito importante e que não levei em conta é que vivemos no Brasil, país enraizado em corrupções e desmandos, onde a lei dificilmente é cumprida como deveria. Então, o mais óbvio é que, mesmo que essa legalização seja aprovada e se evite muitas mortes de mães, aquelas que não concordarem com as exigências da nova legislação, irão certamente procurar as clínicas clandestinas que, evidentemente, continuarão existindo no país da impunidade. Então, parece que este assunto é muito mais complexo do que imaginamos e resolvê-lo seria uma tarefa árdua demais para o nível em que o brasileiro está acostumado a participar. Até agora, não consegui vislumbrar uma alternativa que conseguisse resolver essa questão e, pior, levando-se em conta que o tema foi jogado para a sociedade como se a proposta fosse a de simplesmente eliminar vidas inocentes. Agora, acredito que a legalização pode atenuar um pouco o problema, mas nunca conseguirá resolvê-lo definitivamente.

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