sábado, 20 de agosto de 2011

Ser rico é...

Por Nélio Azevedo

Desde que eu era bem pequeno ouço as pessoas dizer que “muito dinheiro não traz felicidade”. Será que há algum fundo de verdade nisso? Temos medo da riqueza por termos sido doutrinados a rejeitá-la. Até a Bíblia nos diz que ... é mais fácil um camelo passar no furo de uma agulha do que um rico entrar no céu”.

A nossa noção de riqueza sempre foi uma coisa fora da realidade, fora da nossa realidade, já que historicamente sempre fomos um país de pobretões onde muitos aventureiros construíram grandes fortunas. Vivemos num país onde ser rico é uma ficção e essa falta de noção de riqueza só perde para a nossa vontade de ser rico.

Hoje o país experimenta uma realidade pouco comum, somos um povo que gasta muito, pagamos uma fábula em impostos a cada vez que praticamos o verbo comprar.

Gastamos mais no exterior do que os ricos norte-americanos que construíram a nação mais rica do planeta com muito trabalho e uma relação de dominação questionável com o resto do mundo. Convivemos pacificamente com uma leva de miseráveis maior do que a população de muitos países sem que isso nos cause nenhum desconforto; e, olha que vivemos no país mais cristão ou mais católico do mundo; onde, assim como a realeza francesa, nossos ricos só se sentem bem se estiverem rodeados de miséria.

Não sei quanto a outros países, mas aqui temos uma infinidade de loterias oficiais que vez por outra acaba por tornar milionário qualquer simples mortal, que acaba por ser morto pela ganância e desonestidade de quem o cerca. Aí, o ditado lá de cima se torna verdadeiro. Com tanta loteria será que alguém acredita na possibilidade de nos tornarmos ricos com o próprio trabalho? Será que alguém pode se tornar rico com o próprio trabalho? Não estou dizendo que ser rico é ter um milhão, ser rico é ser bilionário, ser dono de algum meio de produção, viver de renda (que é diferente de salário); ser rico ao ponto de poder parar de trabalhar e viver do que a sua fortuna pode lhe dar (rico trabalha?).

Já foi o tempo em que ter um milhão significava ser rico, se pegarmos os anúncios de imóveis de qualquer grande cidade veremos ofertas de apartamentos com preços bem acima de um milhão de reais e, alguns vem com a frase: “apenas 1 milhão e novecentos mil reais”. Isto é uma ofensa aos milhões de trabalhadores assalariados que ganham pouco mais de um salário mínimo por mês e tem que se desdobrar para fazer com que esse valor seja suficiente para alimentar e garantir uma vida razoável à sua família.

Ofende aos milhões de brasileiros que têm que entrar numa fila bem extensa para conseguir garantir uma casinha de 40 metros quadrados no programa “Minha casa minha vida”.

Quando vemos os nossos ricos nas páginas policiais, envolvidos em falcatruas, roubos, sonegação e corrupção, pensamos que o dinheiro não traz felicidade, mesmo.

Mas, depois ficamos sabendo que esse bando de políticos, empresários, pastores, magistrados e outras formas comuns de bandidos não ficam presos (preso significa ser pobre), não devolvem o que roubaram e vivem uma vida folgada e tranquila dentro ou fora do país, chegamos a pensar que o crime compensa, pelo menos para eles.

Seus familiares não se importam de viver bem com o dinheiro roubado ou desviado; seus negócios e investimentos não diferenciam esse dinheiro do dinheiro ganho honestamente, a não ser pela quantidade.

Não estamos acostumados a relacionar riqueza com honestidade e, quem tem essa característica como princípio, fica perplexo diante de tanta desonestidade, de tanto escândalo, de tanta notícia de golpe e safadeza, só nos resta ficarmos perplexos e pensarmos numa compensação, temos a consciência tranquila e posso dormir tranquilo à noite e, podemos até pensar que “Dinheiro não traz felicidade” – Manda buscar!

Um comentário:

  1. Quando se trata de um post como esse que evoca o "pensar interno", não aparece ninguém para comentar. Mas em se tatando de "pão e circo" aparece aos montes. Triste constatação.

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