Por Nélio Azevedo
A polêmica criada pela frase com o português escrito de forma errada, no livro didático de gramática e, aceita por uns e contestada por outros; fez com que eu me lembrasse de algumas aulas de português ministradas pela saudosa professora Dona Guiomar.
Ela demonstrava um respeito e um amor pela Língua Mater de fazer inveja e suscitar em nós um desejo de conhecer e de repetir seu nobre gesto. Não se esqueçam de que a língua foi um dos marcos da fundação de quase todos os Estados Modernos da Europa, juntamente com a fé religiosa e a etnia, portanto, deveríamos ter orgulho da nossa língua e, defendê-la dessas esquisitices tão comuns hoje em dia. Nas aulas de análise fonética, víamos claramente que não se fala como se escreve, nem por isso falamos de forma errada. Lembro-me do vocábulo “MENINO” que quase todo mundo pronuncia “MININU”.
O Brasil tem uma área territorial equivalente a da Europa, onde se falam tantas línguas e tantos dialetos, seria mais do que natural que aqui também se falassem de forma tão variada, com tantas influências de outros idiomas, já que temos cidades e regiões onde estrangeiros dominaram por muito tempo; como foi o caso de São Luís, Recife, Rio de Janeiro; isto sem contar as regiões de fronteiras onde há uma mistura dos idiomas português e espanhol.
Estados onde foram recebidos grandes contingentes de estrangeiros a influência na cultura, principalmente, na língua produziu verdadeiros dialetos por conta de tantos regionalismos e expressões idiomáticas. A coisa mais comum hoje em dia é ouvir as operadoras de call-center, com aquele indisfarçável sotaque paulistano dizer que “vamos estar fazendo”, ou um tal “obrigado, eu”, revelando uma triste violação da língua que alguns menos letrados insistem em copiar; e, não vou nem falar desse novo idioma cibernético que apareceu com o advento da Internet.
Paulista não sabe o que significa o “r” no início da frase ou o “rr” que deveria ser lido e falado de forma diferente; para eles a palavra MURO e MURRO; CARO E CARRO, são a mesma coisa. Eles falam mal o português ou de forma errada ou é simplesmente outra forma de se falar, impregnada de influência italiana?
É um caso a se pensar essa polêmica toda em torno da língua, ela não é diferente dos problemas que surgiram nos encontros e reuniões sobre os acordos a respeito da unificação da língua portuguesa. Fico com pena dos espanhóis que fazem troça deles quando dizem que o espanhol é o português mal falado, com suas gaviotas e cocodrilos.
Da pena ver pessoas tidas por cultas, defenderem a flexibilizaão da gramática para atender à comodidade dos prguiçosos verbais. Aceito e curto o dialeto dos nossos valiosos sertanejos como uma interessante cultura própria. Mas penso que nós temos e ter um parâmetro p´´etreo, ou quase isto, que garanta a oficialidade do nosso idioma.
ResponderExcluirDeixar que a gramática oscile ao sabor dos ventos caprichosos da vontade popular, é o mesmo que mudar o código penal a favor dos nossos procedimentos viciados.
Jaeder - Timóteo
Absolutamente sou contra o que chamo de "ensino do analfabetismo". É um absurdo e um desrespeito ao que temos de mais precioso: nossa Língua Portuguesa.
ResponderExcluirIsso não quer dizer que devemos verbalizar, em nosso cotidiano, todas as concordâncias verbais e não-verbais, etc, etc.
Significa, simplesmente, que o processo de alfabetização é um dos mais importantes da fase de um ser humano e não pode ser negligenciado a ponto de legitimar que seja aplicado no ensino formal uma didática que, exatamente, "ensine uma criança a ser analfabeta".
Entretanto, o problema maior, em minha opinião, não é este. Mas sim, a falta de capacidade do brasileiro de discutir um assunto, seja este ou qualquer outro (como a descriminalização das drogas, por exemplo), sem procurar entender do assunto, sem refletir, sem se informar. As pessoas tomam uma opinião com base na primeira manchete de jornal, se prendem naquilo, e na maioria das vezes nem sabem de fato do que estão falando, porque, muito mais importante que fonética, gramática ou grafia é INTERPRETAÇÃO, discernimento, capacidade de racionalizar sobre um fato e emitir uma opinião própria, sem precisar assistir o Jornal Nacional ou ler a Veja é o que de fato tem relevância. Infelizmente, ainda estamos longe disso.
Belíssimo comentário de Hades Júnior. E sem os erros de digitação que me puniram em minha pressa. É exatamente o que penso. Quem escreve, deseja auxiliar com a sua, a maneira de ver a vida, das outras pessoas. Isto é de grande responsabilidade. Quem lê, deseja dar parâmetros novos às suas convicções.
ResponderExcluirMas voltando ao tema central da matéria de que falamos, como podemos oficializar na gramática, caprichos como o infinitivo sem o "r" final, como ouvimos nas novelas (fazê, jogá, chegá...)ou o famoso gerundismo que acometeu o nosso povo?
Vocês têm um tempinho? Certa vez escrevi assim sobre ele.
Jaeder - Timóteo
“Quero estar aproveitando este espaço para estar passando...”
GERUNDISMO
Nossa sociedade usa atualmente um jeito de falar apoiado no gerúndio. Ao invés do verbo no infinitivo,” fazer, levar, cuidar, cobrar”, preferimos a comodidade do “estar fazendo, estar levando, estar cuidado, estar cobrando”.
Muito mais do que o modismo ocasional que ocorre com a gíria, que se propaga como fogo de palha e se dissipa com a mesma rapidez, a síndrome do gerundismo fincou raízes profundas nos nossos hábitos.
Já não se trata de uma opção, como convém ao exercício da liberdade, em se tratando de um idioma tão rico quanto o nosso. O emprego do gerundismo denuncia uma necessidade de tangenciar a questão, evitando o comprometimento direto. Se digo “farei” ou o popular “vou fazer”, assumo uma responsabilidade ostensiva e incontornável. O “estarei fazendo” oferece uma folga por onde se esvai a credibilidade da afirmação. Esta fresta ainda costuma ser alargada pela substituição do “eu” pelo “nós” ou “a gente”.
Tais recursos são como peças velhas que se encaixam em qualquer cavidade mas não oferecem precisão na sua função. Usá-los é, pois, abrir mão da credibilidade, ainda que implícita, e rebaixar o nível da questão a uma mera possibilidade, enquanto nos ajeitamos melhor no sofá da indiferença.