Assalto frustrado leva dois menores a óbito em Caratinga
A frustrada tentativa de assalto ao “Mercadinho dos Meninos”, no centro de Caratinga, ocorrida na manhã de quarta-feira, 27, que acabou com a morte de dois adolescentes, sendo um de 13 anos e o outro de 16, com um terceiro menor, de 15 anos, baleado, voltou a chamar a atenção da população para o crescente envolvimento de menores na criminalidade na cidade, levantando uma antiga questão: o que pode ser feito para tentar evitar que crianças e adolescentes se enveredem pelo mundo do crime?
Na fatídica manhã, os proprietários do estabelecimento comercial, Fernando Ribeiro dos Santos, 34 anos, e seu irmão Aroldo Gonçalves dos Santos, 29, se preparavam para abrir o mercado quando foram surpreendidos por quatro menores, portando duas armas, que anunciaram o assalto. Aroldo, ao ver seu irmão sendo agredido na cabeça por coronhadas, teria reagido, pegando seu revolver, guardado na caixa registradora e atirado contra os menores, matando um deles e ferindo outros dois.
O menor de 16 anos, foi atingido com um tiro no pescoço e outro na mão, sendo internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora. Na quinta-feira, 28, não resistindo ao ferimento no pescoço, veio a falecer, por volta das 21h30min.
O outro menor, de 15 anos, baleado com dois tiros no braço, recebeu alta no mesmo dia. Ele está recolhido no presídio de Caratinga e deverá ser transferido para Valadares, em regime de acautelamento. O quarto menor, até o fechamento desta edição, continuava foragido.
Os quatro adolescentes eram amigos, moradores da Rua D, no Bairro Doutor Eduardo, e, segundo a Polícia Militar, possuem várias passagens por infrações diversas. A própria mãe de um dos menores baleado confirmou que o filho é usuário de drogas e já foi apreendido várias vezes.
ADVOGADO
O advogado dos comerciantes, Dário Júnior, alega que a reação de Aroldo só aconteceu após os menores dispararem contra eles. “Os menores começaram a atirar nas vítimas, foi então que Aroldo pegou a arma e se defendeu e protegeu a vida do irmão”. Segundo ele, Aroldo agiu em legítima defesa. De acordo com o advogado, a arma pertence a Aroldo que tem posse e registro da arma.
IMPUNIDADE E PREVENÇÃO
Falando ao jornal A Semana, o psicólogo forense Miguel Ângelo Nunes Bonifácio, que atua em processos que envolvam menores infratores, não quis fazer uma análise específica sobre o acontecimento de quarta-feira, já que exigiria um estudo mais aprofundado dos envolvidos, para traçar o perfil psicológico de cada menor, optando por analisar a questão de uma forma mais abrangente.
Ele acredita que a impunidade seja um dos fatores que mais contribuem para que jovens e adolescentes militem no crime. “A certeza de não ser penalizado e as facilidades em adquirir recursos e bens materiais, através do tráfico de drogas, incita os jovens a entrarem no mundo do crime”.
Na opinião de Miguel Ângelo, a inexistência de um Centro de Ressocialização de Menores, também contribuiu, de forma significativa, para o quadro atual. Embora não acredita que somente o centro seja suficiente para recuperar o menor, o fato da instituição não existir deixa o menor com a sensação de que não será punido.
Para o psicólogo, os fatores sociais, também, influenciam. “Em situações onde existem famílias de baixa renda, que enfrentam graves dificuldades, jovens, crianças e adolescentes não encontram outra opção e, com isso, tendem a seguir o caminho errado.
Ele entende que o papel do Estado é fundamental. “O investimento na área da educação e no trabalho preventivo, aliado a ações punitivas, seria uma forma gradativa de começar a mudar o cenário”.
Além disso, para Miguel Ângelo, para ocorrer uma mudança profunda, é necessário envolver a comunidade e os seguimentos sociais, num esforço mútuo e contínuo, com participação ativa dos governos. “Investindo nos municípios e aumentando-se as oportunidades, mesmo que não se chegue à recuperação de muitos infratores, estará sendo feito um trabalho preventivo, voltado às futuras gerações”.
Fonte: A Semana Agora
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