segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Nossa Música

Por Nélio Azevedo

Quando ouço as músicas mais antigas, das décadas de 50, 60 e 70, sejam elas nacionais ou estrangeiras; MPB, rock ou um melodioso bolero; eu sinto uma grande nostalgia e uma alegria muito grande de ter podido curtir essas maravilhosas canções que mudaram a minha vida e a de quase todos meus contemporâneos.

A música sempre foi uma espécie de combustível na minha vida, às vezes basta a simples lembrança de um acorde ou um refrão e me transporto para uma época distante, uma injeção de alegria invade mina alma e meu corpo e me sinto muito bem.

Os festivais da canção eram uma espécie de desafio, não só para os concorrentes, como o era para nós ouvintes. Torcíamos, gritávamos e protestávamos como se lá estivéssemos; como se os jurados e concorrentes pudessem nos escutar e tomar conhecimento da nossa indignação por uma ou outra nota mais baixa, por uma desclassificação e pela vitória da outra música que não aquela que tínhamos escolhido. Assistíamos a tudo pela televisão e depois saíamos pelas ruas e nos encontrávamos nos bares e clubes onde continuávamos na torcida por um resultado que já tinha se consumado. Como se pudéssemos alterar alguma coisa e, na maioria das vezes já saíamos cantarolando justamente aquela música que não queríamos ver como vencedora. Algum tempo depois iríamos assistir ao vivo e à cores, aos nossos festivais locais, com suas expectativas e injustiças em tamanho menor do que os festivais da Record ou Tupi e, depois os da Globo.

Quem poderia imaginar que aquele festival da canção de uma cidade tão pequena pudesse alcançar a repercussão que conquistou em seus 21 anos de duração? Foi o Festival mais longevo do Estado de Minas Gerais, um motivo de orgulho para a nossa pequena e provinciana cidade.

Hoje vejo os rumos que a nossa música tomou, essa invasão de estilos exóticos que não trazem muita coisa a não ser uma homenagem à violência, ao sexo irresponsável ou uma exacerbação do uso do corpo num movimento voluptuoso e indecente que não consigo gostar nem um pouquinho, e, olhe que eu não sou santo nem puritano.

Tento encontrar alguma coisa nas letras dessas músicas e não consigo encontrar nada que valha a pena parar mais do que 30 segundos para ouvi-la. Essa superexposição de rostos, peitos e bundas siliconadas, uma ostentação sem fim de jóias, carros, rapazes e moças como se fossem mercadorias prontas para o consumo, chega a me enojar.

A televisão é uma grande responsável por esse descaminho que a música tomou, só vale aquilo que vende e que seja para o consumo imediato. No próximo verão ninguém nem se lembrará mais dela, não importa, já rendeu os milhões necessários. Só isso importa.

Isso, sem falar no tal do jabá que rola para os apresentadores que promovem esse ou aquele artista. Não sou contra nenhum ritmo ou estilo de música, só que, todos deveriam ter as mesmas oportunidades e a mídia deveria ser uma difusora de cultura.

Aquela nostalgia a que eu me referia no início fala justamente do envolvimento que tínhamos com a música, do que ela representava para cada um de nós, pobres rapazes do interior de Minas que não tínhamos vozes e tomávamos emprestado um refrão e sem o menor pudor, usávamos em nossas cantadas, nossas cartas de amor ou num momento de embriaguez reuníamos toda coragem possível e soltávamos um “do you wanna dance”? ou “Who stop the rain”? Que nem sabíamos direito o que significava ou mesmo sabendo, aquilo era a nossa voz que ganhava os ouvidos das meninas que queríamos impressionar ou simplesmente tirá-la para dançar.

Quantos desses rapazes que estão hoje na casa dos trinta anos que devem sua existência ao rock dos Beatles, à uma balada de um Credence, Bread, Cat Stevens ou à uma melodiosa canção do Bee Gees ou Carpenters; ingrediente mais do que necessário para que a gente tomasse coragem e tirasse aquela garota para dançar, iniciando ali na pista do Marajoara ou do Flamê o namoro que iria resultar em casamento e os filhos que iriam um dia ficar órfãos sociais. Não tem mais bailes nem horas dançantes nos clubes, os clubes já não existem mais. Não é sem motivos que muitos rapazes e moças não têm a menor educação, não têm urbanidade e não aprenderam a se comportar socialmente, pelo simples fato de não terem tido essa oportunidade. Não foram ensinados nem estimulados a se comportar de forma civilizada.

Hoje vemos esses jovens frequentando as páginas policiais por motivos que antes só atingiam os marginais; ninguém respeita ninguém, os horrores das pichações tornaram as paredes, muros e portas de estabelecimentos comerciais ou residenciais uma terra de ninguém. O som dos CD player dos carros num terrível bate-estaca que não respeita a proximidade das escolas ou hospitais, não respeita a lei do silêncio e não respeita o descanso noturno de quem passou um dia inteiro trabalhando.
As letras de algumas coisas que alguns insistem em chamar de música é uma afronta a nossa inteligência e ao bom senso. Outro dia vi um clip na MTV em que um rapper norte americano dizia de sua linda namorada, ela seria linda, gostosa e burra feito uma porta; numa seqüência de imagens de corpos, carros, jóias e luxo que me deixaram perturbado. Então é isso que essas pessoas ouvem? É isso que os motiva?

Não é à toa que o mundo virou essa coisa que assistimos estupefatos todas as noites nos jornais da TV.

Não vou nem entrar no mérito do estrago que a música sertaneja causou à nossa MPB verdadeira, não valeria à pena, ela é só um espelho do nosso empobrecimento cultural, mas é insuportável a idéia de ver Banda Calypso e Calcinha Preta e grupos de pagode representando a música brasileira em eventos no exterior.

Alguns poderia dizer que é uma questão de gosto, eu teria que concordar que mau gosto também é um gosto. É inaceitável a injustiça que se faz com alguns artistas de nome e renome, com décadas de bagagem e talento que não terão vez porque não fazem o gênero de quem manda no mercado fonográfico, não vende tanto quanto precisam.

É muito triste saber que o compositor Chico Buarque de Holanda, um dos maiores expoentes da nossa música vendeu no ano passado, menos CD do que o MC Créu. Convido aos leitores desse texto a assistir ao filme “Coração Louco”, com o fantástico Jeff Bridges, ganhador do Oscar em 2010, vale à pena, principalmente pela mensagem do filme e as belas canções do Country norte americano presentes no filme e, vem aí um filme sobre os festivais da canção a que me referi no texto, não percam!        

Um comentário:

  1. Nélio, nossa sorte é que as músicas daquela época ainda estão vivas.
    Toda vez que toca uma música DOS ANOS 60, 70 até mesmo na década de 80 parece ser a primeira vez que estamos ouvindo.
    Hoje estas catástrofes vomitadas, com perdão da palavra, são uma afronta ao nossos lares.
    ISSO É UMA VERGONHA JÁ DIRIA BORIS CASOY.
    E a grande Mídia ainda dá espaço!
    CAS
    BH/MG

    ResponderExcluir

Todos os comentários são moderados e não serão aceitas mensagens consideradas inadequadas.