O dilema de Jesus

Por Nélio Azevedo

Segundo a Bíblia, Adão e Eva foram criados e habitavam o paraíso até o dia em que o Arcanjo Gabriel chegou com a ordem celestial de despejo e botou o casal original para fora.

Teriam eles cometido o tal pecado original que manchou a humanidade, condenando todo mundo, todos os descendentes do casal ao fogo do inferno. Que Deus é esse que permite que tal coisa acontecesse, deixar um espírito imundo corromper sua criação e ainda por cima jogou toda a culpa do ocorrido nos pobres coitados? Se Ele é Deus, sabedor de tudo que acontece antes mesmo de acontecer, poderia dar uma ajudazinha ao inocente casal para que eles não caíssem nessa esparrela. Afinal de contas, nós que somos considerados a suprema criação, parecidos com o criador, será que não poderíamos ter sido redimidos de outra forma?

Alguns teólogos e autoridades eclesiásticas consideram essa passagem como sendo uma alegoria, não considerando que os acontecimentos tenham sido dessa forma.

Aí está criado um dilema terrível: Se Adão e Eva não foram protagonistas de tal episódio, e tal episódio pode nem ter acontecido e Jesus, o filho de Deus, teria morrido para nos salvar do pecado original que não aconteceu, pode se concluir que Jesus morreu à toa?

Porque então, Deus teria permitido tal coisa? Entregar seu filho amado para ser morto por nada? É totalmente incompreensível esse martírio para salvar uma humanidade que continua cometendo pecados que em muito ultrapassam o delito de comer uma maçã e se tornar sabedor dos mistérios da geração de outra vida. Será que Deus falhou ao mandar seu filho para os algozes e não saberia que a humanidade continuaria a cometer tantas iniquidades? Que Deus é esse que escreve os destinos de todos nós e não pode interferir para que tudo aconteça sem tanto sofrimento? Será que o tal livre-arbítrio só serve para nos levar para um fim trágico anunciado? Todos esses episódios carregam uma falta de lógica que nos joga nos braços da descrença, e, olha que estou fazendo uma análise levando em conta somente as Sagradas Escrituras, se buscarmos argumentos científicos, tudo se torna mais incompreensível ainda, porque segundo a ciência, Adão e Eva nunca existiram dessa forma, tornando o pecado original um mito e conseqüentemente, a morte de Jesus para nos salvar de um mito tão forte que até Deus acreditou nele ao oferecer seu filho para nos redimir.

Para a Ciência e para o Império Romano, Jesus não era essa maravilha toda que as Sagradas Escrituras afirmam, ele não passava de uma pessoa comum e, os acontecimentos da época o levaram a acreditar que realmente era o Messias, mesmo que isso lhe custasse a vida de forma tão trágica.

Todo esse dilema nos remete a outro dilema, o dilema de Judas Iscariotes. Pobre homem, já era considerado persona non grata antes de entregar o Mestre, depois então, não poderia ter tido outro fim a não ser o auto-extermínio.

Vamos rever seu papel no episódio da condenação de Cristo. Se Jesus tinha que ser preso, condenado e morto para se cumprir a profecia, Judas era um dos protagonistas mais importantes na cena. Se ele não tivesse entregado Jesus, tudo não aconteceria e nós estaríamos condenados e não teríamos sido salvos. O cristianismo não existiria e Jesus e Maria Madalena seguiriam suas vidas tranqüilas até morrerem de velhice. O que seria do mundo sem o cristianismo? Seria o caos que se seguiu à queda do Império Romano? Já que o maior herdeiro desse Império foi o cristianismo.

É uma questão que gera muitas perguntas e as respostas, com certeza, não estão nas Sagradas Escrituras.