Recentemente, uma avalanche de informações desconexas e sem nenhum fundamento técnico têm sido divulgadas pelas redes sociais e internet, sugerindo valores supostamente “ideais” para o pH da água destinada ao consumo humano. Algumas dessas informações, totalmente sem nenhuma base científica ainda chegam a recomendar o pH alcalino como uma fonte terapêutica e de promoção da saúde. Em colaboração com a saúde pública e com o dever de informar corretamente, solicitamos que todos atentem para o exposto abaixo:
1) O que é o pH da água?
As letras pH são as iniciais de percentual Hidrogeniônico. Não é o caso aqui de discutirmos seu significado ou cálculo do ponto de vista químico ou matemático, mas sim sua implicação sobre a qualidade da água destinada ao consumo humano. A escala de pH varia de 1 a 14, sempre números positivos, e indica a concentração de íons H+ presentes na água. Como essa concentração de íons H+ determina o caráter ácido da água, costumamos dizer que o valor do pH indica se a água tem caráter ácido, neutro ou básico (também chamado de alcalino), de forma que, valores de pH menores que 7 representam caráter ácido, maiores que 7.0 representam caráter básico e igual a 7.0 representa caráter neutro. Isso não significa absolutamente que uma água com pH igual a 6.0, por exemplo, seja ou ácido. Ou que uma água com pH igual a 8.5 seja uma base. O pH da água indica, apenas, seu caráter baseado na concentração dos íons H+, visto que ácidos e bases propriamente ditos são espécies químicas com definições baseadas em conceitos bem mais complexos que simplesmente o valor do pH.
2) Qual o valor ideal do pH da água potável?
Hoje no Brasil, quem determina todos os Padrões de Potabilidade em todo o território nacional é a Portaria 2914 do Ministério da Saúde. Essa Portaria recomenda que o valor do pH da água destinada ao consumo humano e fornecida pela rede pública de abastecimento esteja na faixa entre 6.0 a 9.5. Entretanto, existem inúmeras águas engarrafadas e comercializadas em garrafões para bebedouros cujo pH é inferior a 6.0. Essa condição não deixa nenhuma água “melhor” ou “pior” para a saúde humana pois seu efeito sobre ela, baseado no pH, é absolutamente nenhum.
3) É verdade que devo tomar água “alcalina” para melhorar minha saúde?
Essa informação é absurda, mentirosa e sem nenhum fundamento. O ambiente estomacal de uma pessoa normal tem pH na faixa de 2.5 a 3.0, produzido por um ácido forte que é o ácido clorídrico. É assim que tem que ser, isso é normal e fisiológico. Quando se toma água com pH alcalino, isto é, superior a 7.0, a sua influência sobre o pH do estômago é praticamente nenhuma em razão da “força” do ácido clorídrico do estômago. No passado, acreditava-se nessa influência e muita gente tratava gastrite com água alcalina, sem absolutamente nenhum sucesso. Hoje sabemos que boas razões para os sintomas de hiperacidez estomacal como azia e “queimação” podem ser uma infecção por H. pillori (que deve ser tratada com antibióticos) ou uma DRGE (Doença do Refluxo Gastresofágico). Em ambos os casos e tantos outros, deve-se procurar um médico especialista para a conduta ideal. A divulgação dessas informações equivocadas acabam desorientando as pessoas e fazendo-as crer em terapias absurdas que levam à piora dos sintomas e atraso na cura.
4) E qual a influência do pH da água que consumimos sobre o pH do nosso sangue?
Absolutamente nenhuma. Esse é outro absurdo que circula pela internet, muitas vezes pela boca de supostos especialistas que se dispõem a simular experimentos infantis e de mero efeito visual, iludindo os menos avisados sobre efeitos de “água ácida” ou “água alcalina” sobre o pH do sangue e, consequentemente, sobre a saúde das pessoas. O pH do sangue humano varia entre 7.35 e 7.45, uma fixa extremamente fina (apenas 0.1) que garante que nosso metabolismo opere normalmente. O corpo humano tem mecanismos refinadíssimos para conseguir manter o pH do nosso sangue dentro dessa faixa, pois fora dela nossa saúde entraria em sério comprometimento. Obviamente um copo de suco de limão não poderia interferir nesse metabolismo como, de fato, não interfere. Muito menos, um copo com água cujo pH fosse 8.0, 9.0 ou mesmo 10.0 ! Do contrário estaríamos sujeitos à morte súbita com uma simples limonada. O mesmo dano está sendo atribuído aos refrigerantes que podem ter efeito deletério sobre a saúde devido a alta concentração de açúcar, mas nenhuma relação com o pH. Efeito similar acontece com as águas gaseificadas que, em geral, têm pH inferior a 6.0 em razão da presença do ácido carbônico produzido pelo gás (CO2) e que não têm absolutamente nenhuma interferência sobre o pH de nosso sangue e nem de nossa saúde como um todo.
5) Afinal, com relação à água, o que mais devo fazer para preservar minha saúde?
Previna-se contra informações absurdas. Informe-se corretamente. Não existe água “magnetizada”, água “hexagonal” “água imantada” ou tantas outras formas mágicas de água divulgadas e comercializadas por aí. Jamais abandone uma terapia convencional, de resultados médicos conhecidos e consagrados, por expectativas em relação a fórmulas mirabolantes, salvadoras e que só poucos conhecem. O papel da água em nosso organismo é vital e diz respeito à manutenção de nossa homeostase, transporte de eletrólitos e nutrientes. Tampouco os nutrientes ingeridos através da água que consumimos diariamente têm papel relevante quando comparados aos que devemos ingerir todos os dias pelos alimentos. Isso é um mito e precisa ser esclarecido. Hidrate-se bem, aproximadamente 2 litros de água limpa e adequada ao consumo humano por dia. Essa é a água boa, ideal. Seu pH é irrelevante. Alimente-se bem. É dessa forma que se preserva a saúde. Sem magia ou contrainformação.
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