sexta-feira, 31 de outubro de 2014

10 razões para amar o presidente uruguaio José Pepe Mujica

Revista Forum

Entre outras coisas, o ex-guerrilheiro marxista legalizou a maconha, o aborto e rejeita os benefícios da presidência. Em um mundo faminto por alternativas, suas inovações colocaram o Uruguai no mapa como uma das governanças progressistas e criativas mais empolgantes

Por Medea Benjamin, em Alternet | Tradução: Vinicius Gomes

imageO presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, um ex-guerrilheiro marxista de 78 anos – passando 14 deles na prisão e em sua maioria na solitária, recentemente visitou os EUA para um encontro com o presidente Barack Obama, no qual falaram sobre variados assuntos. Ele disse à Obama que os norte-americanos deveriam fumar menos e aprender mais idiomas.

Discursou para uma sala cheia de empresários na Câmara do Comércio dos EUA sobre os benefícios na redistribuição de riqueza e aumento do salário para a classe trabalhadora. Falou aos estudantes da American University que não existem “guerras justas”. Qualquer que fosse a audiência, ele falava espontaneamente e com uma honestidade tão brutal que ficava difícil não amar o cara.

Aqui estão as 10 razões para você também amar o presidente Mujica.

1. Ele vive com simplicidade e rejeita os benefícios da presidência: Mujica se recusou a viver no Palácio Presidencial ou ter um “cortejo motorizado”. Ele vive em uma casa de apenas um quarto na fazenda de sua esposa e dirige um fusca de 1978. “Houve muitos anos em que eu ficaria feliz em apenas ter um colchão”, disse Mujica, se referindo a seu tempo na prisão. Ele doa mais de 90% de seu salário de 12 mil dólares à caridade – o que o coloca no mesmo patamar de renda de um cidadão uruguaio comum. Quando o taxaram de “o presidente mais pobre do mundo”, ele também refutou o rótulo: “Uma pessoa pobre não é aquela que tem pouco, mas aquela que precisa sempre de mais e mais e mais. Eu não vivo na pobreza, vivo com simplicidade. Necessito de poucas coisas para viver”.

2. Ele apoiou a pioneira legalização da maconha em seu país: “Em nenhuma parte do mundo a repressão ao consumo de drogas trouxe resultados. É hora de tentar algo diferente”, disse Mujica, na época. Então, nesse ano, o Uruguai se tornou o primeiro país a regular legalmente a produção, venda e consumo de maconha. A lei permite que indivíduos cultivem certo montante por ano e o governo controla o preço da maconha vendido nas farmácias. A lei exige que consumidores, vendedores e distribuidores que tenham uma licença emitida pelo governo. A experiência uruguaia almeja tirar o mercado dos traficantes de drogas e tratar o vício às drogas como um assunto de saúde pública. O experimento promete ainda ecoar por todo o mundo.

3. Em 2013, Mujica assinou a lei que transformou o Uruguai a ser o segundo país da América Latina (depois da Argentina) a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo: Ele disse que legalizar o casamento homossexual é simplesmente reconhecer a realidade: “Não tornar isso legal seria uma tortura desnecessária para algumas pessoas”. Recentemente, o Uruguai também avançou na questão de permitir que homossexuais – até casais – sirvam nas forças armadas.

4. Ele não tem medo de bater de frente com os abusos de grandes corporações, como deixa evidente a batalha épica de seu governo contra o gigante do tabaco norte-americano, Philip Morris: Um ex-fumante, Mujica disse que o tabaco é um matador que deve ser mantido sob controle. Mas a Philip Morris está processando o Uruguai em 25 milhões de dólares no Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos, pois as rígidas leis do país sobre o cigarro proíbem que se fume em espaços públicos fechados e requerem rótulos de advertência – incluindo imagens gráficas sobre os efeitos na saúde (quase igual ao Brasil). A Philip Morris é a maior empresa da indústria do cigarro nos EUA, possui enormes interesses comerciais ao redor do mundo e um muito bem pago exército de advogados. A batalha do Uruguai contra esse Golias norte-americano também terá repercussões globais.

5. Ele apoiou a legalização do aborto no Uruguai (seu antecessor havia vetado a lei): A lei é bem limitada, comparada às dos EUA e da Europa. Ela permite o aborto dentro das 12 primeiras semanas de gestação e exige que a mulher se encontre com uma banca de médicos e assistentes sociais para esclarecer os riscos e possíveis efeitos colaterais de um aborto. Mas essa lei é a mais liberal sobre o aborto na católica e conservadora sociedade latino-americana e é um passo claro na direção certa para os direitos reprodutivos da mulher.

6. Ele é um ambientalista tentando limitar a necessidade do consumo. Na conferência Rio+20, de 2012, ele criticou o modelo de desenvolvimento advogado pelas sociedades ricas: “Nós podemos reciclar praticamente tudo hoje. Se vivêssemos dentro de nossas necessidades –ao ser prudente – as 7 bilhões de pessoas no mundo teriam tudo o que elas precisam. As políticas globais deveriam caminhar nessa direção”, disse ele. Recentemente, Mujica também rejeitou um projeto conjunto com o Brasil que iria fornecer a seu país energia barata vinda do carvão, por conta de seus receios em relação a dano ambiental.

7. Ele tem focado na redistribuição da riqueza nacional, alegando que sua administração reduziu a pobreza de 37% para 11%. “Empresários apenas querem aumentar seus lucros; cabe ao governo garantir que eles distribuam o suficiente desses lucros para que os trabalhadores tenham dinheiro para consumir os bens que produzem”, ele discursou na Câmara do Comércio dos EUA. “Não é mistério algum que menos pobreza, mais comércio. O investimento mais importante que podemos fazer está nos recursos humanos”. As políticas de redistribuição de seu governo incluem estabelecer os preços em bens essenciais como leite, por exemplo, e o fornecimento de computadores e educação para todas as crianças, de graça.

8. Ele se ofereceu para receber os detentos libertados de Guantánamo: Mujica chamou a prisão norte-americana na Baía de Guantánamo, em Cuba, como uma “desgraça” e insistiu que o Uruguai tomasse a responsabilidade em ajudar o fechamento do centro de detenção. A proposta é impopular no Uruguai, mas Mujica, que foi um prisioneiro político por 14 anos, disse que ele “está fazendo isso pela humanidade”.

9. Ele se opõe à guerra e ao militarismo. “O mundo gasta 2 milhões de dólares a cada minuto em recursos militares”, exclamou horrorizado aos estudantes da American University. “Eu costumava pensar que haviam guerras nobres e justas, mas eu não acredito mais nisso”, disse o ex-guerrilheiro. “Hoje, acho que a única solução são negociações. A pior negociação é preferível à melhor guerra, e a única maneira de garantir a paz é cultivar a tolerância”.

10. Ele tem uma adorável cadela de três patas: Manuela perdeu uma pata quando Mujica acidentalmente a atropelou com um trator. Desde então, Mujica e Manuela são praticamente inseparáveis.

A influência de Pepe Mujica vai muito além de ser o líder de um pequeno país de 3 milhões de pessoas. Em um mundo faminto por alternativas, as inovações que ele e seus colegas estão promovendo colocaram o Uruguai no mapa como uma das governanças progressistas e criativas mais empolgantes.

10 comentários:

  1. Ficamos com vergonha em ver a riqueza de nossos palácios em Brasília, nossa "presidenta" com aquele cortejo motorizado em sua volta, hospedando em hotéis caríssimos, que nossos governantes sigam o exemplo deste homem e passem a agir, na prática e não somente no discurso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pode esperar sentado. Aqui no Brasil até prefeito de cidades pequenas desfrutam de mais conforto do que muitos presidentes de outros países.

      Excluir
  2. O simples pauperismo do presidente em certo sentido não representa muita coisa para a melhoria do povo. Agora, pelo texto, é notória a intenção do líder, por suas posturas, da implantação de um regime socialista. Pela história, que mostra o nazismo com o grande vilão do último século, o socialismo ainda é bem visto. Pena que quem defende essas ideias não deve saber ou finge não saber dos 200 milhões de mortes que tal ideologia ceifou em todos os cantos do mundo. Como vi outro dia na internet esses dias, ser socialista/comunista nos dias atuais será tão repugnante como ser nazista na Alemanha ou comunista na ex-URSS. Espero que o comentário seja publicado, e não excluído como em outras vezes, pois não vejo ofensa pessoal, preconceito ou incitação ao ódio ou violência. Acho que a imparcialidade na imprensa é mais importante do que a militância política.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não é o caso do Brasil, onde predomina o capitalismo em meio a algumas fagulhas de socialismo, como no caso dos programas sociais implementados pelo governo Lula e continuados por Dilma. Se isso provocou mortes em outros países, aqui despertou o ódio de uma direita conservadora e preconceituosa que ainda reza a cartilha copiada do imperialismo americano, acompanhada de resquícios da senzala.

      Excluir
    2. Realmente o capitalismo ainda sobrevive, com dificuldade, em face do aparelhamento que a esquerda vem fazendo em todos os setores da sociedade e do próprio Estado. Quem conhece as reais intenções do atual governo sabe muito bem a profundidade ideológica marxista/socialista que estão dispostos a incutir no "senso popular", copiado piamente daquilo que Antônio Gramsci, na escola de Frankfurt, chamava de hegemonia cultural. Não discordo do bem que muitos dos programas sociais do lulo-petismo trouxeram, mas como vc mesmo disse, contaminados do jeito que estão pelo socialismo é de se questionar, no mínimo, suas rerais intenções. E realmente, o socialismo ainda desperta ódio, ojeriza e repugnância de pessoas que não vendem sua liberdade e desejam o Estado mínimo, não aquele pregado pelo neoliberalismo, mas de seu conceito mais simples que é o da não interferência do Estado nas vidas privadas. E por fim me questiono: se uma forma de governo que matou mais de 200 milhões de pessoas em menos de um século, não é tão grave quanto uma direita conservadora, preconceituosa, imperialista americana (se é que ela existe pois uma das armas do Marxismo é justamente a manipulação linguística e subversão dos valores semânticos), eu jã não tenho mais esperança na humanidade! Se um governo que pretende, como disse a sra. Kirschnner em seu twiitter, logo após a reeleição de nossa presidente, que era esse mais um passo "hacia la consolidación de la Patria Grande", instalar um governo único e socialista como a "democrática" Cuba, conforme é atestado e mais que comprovado pelas atas do Foro de São Paulo, eu já não entendo mais o que as pessoas entendem como liberdade. Enfim, é estratégia desde os tempos de Lênin, por parte da esquerda, continua a mesma: "Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”. Como não ver o pragmatismo de tal prática nesse ódio aos EUA com seu imperialismo, ao período Militar no Brasil, ao dito conservadorismo religioso/político de uma direita que infelizmente em nosso país ainda nem é articulada e organizada como a esquerda? Infelizmente, é trágico, isso pra não ser mais pessimista.

      Excluir
    3. Se formos questionar matança, o imperialismo americano fomentador de guerras já matou quantos? Acho que todos os sistemas políticos têm pontos positivos e negativos e a liberdade como se prega, seja de que lado for, é uma utopia. A verdadeira liberdade se conquista internamente. Ainda prefiro o capitalismo mesclado com socialismo abraçado pelos dois últimos governos do que o neoliberalismo que tem levado vários países ao declínio econômico e social.

      Excluir
  3. O Uruguai do presidente Mujica não é nem comunista (marxista),e nem socialista. O Uruguai continua a ser um país capitalista. Presidente Mujica apenas governou visando fundamentalmente o bem-estar de seu povo. E nisto teve muito sucesso pois o Uruguai caminha a passos largos para voltar a ser a "Suiça Sul-americana" como era conhecido até os anos de 60 do século passado.
    E a vida simples dele evidencia apenas ser ele parte daquele grupo de pessoas imunes à arrogância do poder.
    E para finalizar, é possível a um país capitalista ter como objetivo principal o bem-estar de seu povo, vide Canadá, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Japão, Coréia do Sul e tantos outros.
    Um abraço e que Deus abençoe a todos de Raul Soares.

    ResponderExcluir
  4. o comentário anterior sobre o presidente Mujica é de Ulisses Maia-BH

    ResponderExcluir
  5. Muitos dos Brasileir@s são SOCIALISTAS quando estão fazendo uso dos PROGRAMAS SOCIAIS, exemplo o PROUNI juntamente com ajuda para custear as despesas mensais, mas quando conquistam o diplomam rapidinho entram no sistema CAPITALISTA DEFENDENDO O NEOLIBERALISMO para proteger sua classe.

    ResponderExcluir
  6. Uaai. Nun é qui pensano ben nu dia da leição tinha gente formadu nu PROUNI defendeno essa posição. Num sô CUBANO NÃO. Cada cidadão tem o direito de expressar e votar em quem achar que é o melhor. E que continue a democracia.

    ResponderExcluir

Todos os comentários são moderados e não serão aceitas mensagens consideradas inadequadas.