segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os caminhos dessa vida

Por Nélio Azevedo

Depois de assistir ao filme “A Árvore da Vida”, de Terence Malick, sobre os caminhos – Caminho da Graça e Caminho da Natureza - dispostos para nós, seres humanos, eu passei a enxergar um pouco mais sobre mim mesmo e os outros.

No Caminho da Graça, os seres humanos têm a chance de atenuar os efeitos da nossa origem perpetuados em nós através do nosso DNA ancestral, funcionando como uma anestesia sobre a razão do porque de estarmos aqui.

Já o Caminho da Natureza, ele permite uma evolução, mas, não podemos nos esquecer da nossa bruta origem e não queremos largar mão do DNA ancestral. Ele nos impulsiona para frente, mas não nos diz onde vamos chegar.

No meu ponto de vista, não é uma questão de certo ou errado, como muitas pessoas insistem em classificar esse embate interior, se trata de nos conhecermos melhor e nos identificarmos com aquilo que foi a nossa escolha, se é que escolhemos o caminho ou o caminho que nos escolheu; visto que a nossa personalidade e a nossa vida estará permeada pelas decisões que tomaremos em toda nossa vida.

Na suavidade da Graça, temos o conforto de acreditar num fim que já estaria posto por uma Entidade Superior que a tudo e a todos domina, nela reside a esperança de um bem estar celestial e um sem-fim de bem-aventuranças. No Caminho da Natureza, essa Entidade é a própria Natureza, ela também tem suas determinações e leis que incidem sobre tudo e todos, entretanto, nela não há esperança de um fim melhor ou de uma continuidade, somente a razão e o conhecimento nos conforta.

Eu que fui iniciado na infância no Caminho da Graça, me vi em eterno conflito com as leis desse caminho, elas estavam me segurando dentro dos meus próprios anseios, que naquele momento eram perigosos para mim, já que eu vivia em comunidade e as leis dela eram as leis da Graça. Fui contido até que esse estreito caminho não pôde mais me segurar e debandei por esse mundão largo e extenso, ando trilhando e tenho até mesmo a ilusão de que eu traço o meu próprio caminho, mas, tenho plena consciência de que estou impregnado dos valores aprendidos no Caminho da Graça e deles não posso mais abrir mão. Eles me ajudam a compreender e aceitar os que escolheram o Caminho da Graça, mesmo que eles não me compreendam nem me aceitem por ser tão diferente deles nos meus objetivos e crenças. Muitas vezes vejo os argumentos deles me dizerem: “minha crença é melhor do que a sua”. Por outro lado, eu também tenho lá minha má-vontade para com os que acreditam nas coisas que eu não acredito mais, eu que valorizo tanto a razão, acho que eles (os que creem) abriram mão da razão e abraçaram as razões de outras pessoas que teriam inventado todas as verdades em que acreditam.

Hoje penso que não faz mal nenhum acreditar no que o Caminho da Graça me impõe, só que não o quero inteiramente, quero continuar no caminho da Natureza sem abrir mão da ternura, sou filho dela e ela me adestrou para a vida, com os freios da Graça. Penso que isto é o equilíbrio que me faz bem até que eu me convença do contrário.

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