Por Nélio Azevedo
No Jornal o Tempo de Domingo, 20 de novembro, a publicação de mais uma charge do cartunista Duke me deixou pensativo, como de outras vezes.
A charge banaliza a tortura e coloca como um suposto problema a estampa da cueca do torturador, estampado na figura de um inofensivo velhinho de pijamas e, a certeza de que o torturado era simplesmente um comunista.
Primeiramente, nesse momento histórico, onde se questiona a auto-anistia que os militares se deram, questionada, inclusive pela ONU, é de suma importância que o país saiba o que aconteceu realmente no período da Ditadura Militar. Segundamente, acho que ela não deve mesmo, ter caráter punitivo, mas elucidativo, já que muitas pessoas foram mortas em condições misteriosas, outras torturadas, outros desaparecidos e as famílias têm o direito de saber onde estão os corpos dos seus mortos. Tortura é um crime hediondo e nunca foi um método convencional nem aceitável de se obter informações.
Finalmente, muitas pessoas torturadas, mortas ou perseguidas com os direitos políticos cassados, outros, banidos e forçados a viver no exílio.
Pelo visto esse moço que se intitula Duke, não viveu os momentos difíceis desse período tenebroso pelo qual o país passou, não faz a menor ideia do que era o medo reinante nessa época, não teve nenhum parente torturado, morto ou desaparecido. Na África do Sul, onde o absurdo adotou um método, o apartheid, ao ser desmontado o sistema opressor foi ao banco dos réus, não para punir simplesmente, mas para que se soubesse o que realmente aconteceu. Quem tomou parte da opressão foi convidado a fazer um depoimento sobre a sua participação, só queriam a verdade, caso o depoente mentisse e ficasse evidenciada sua mentira, ai, sim, ele seria levado a julgamento pelo crime cometido. Justo e sensato.
Pela postura dos militares presentes na cerimônia do lançamento da Comissão da Verdade, eles que sequer ocupavam cargos no referido período, preferiram se calar e demonstrar o espírito corporativo e solidário aos militares envolvidos nas denúncias de crimes. Muitos dirão que não se devem desenterrar esses defuntos, o passado deve ficar lá atrás; eu pergunto:
- Que defuntos? Onde eles estão? O quê fizeram? Desde quando tem pena de morte no país? A sociedade civil tem o direito de saber o que aconteceu para que isso não aconteça outra vez.
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