Por Nélio Azevedo
Sobre a reportagem de capa “Em Nome de Deus”, sete mitos sobre Deus, a escritora Karen Armstrong, com seu livro em que toma o lugar de advogado de Deus, afirma que o encontro com Deus deriva mais de um esforço pessoal do que da crença, me faz lembrar Clarice Lispector que dizia que se eu preciso inventar Deus, esse Deus não existe.
No seu contra-ataque aos ateus, ela faz justamente o que Richard Dawkins diz em seu livro “Deus um delírio”! Os que crêem não têm nenhum respeito pelos que não crêem; não permitem que se fale do Deus em que acreditam e tomando sua defesa, como se Deus precisasse de advogados, se tornam às vezes tão violentos quanto às descrições que se fazem Dele nas Sagradas Escrituras.
Disse que os “Novos ateus” são teologicamente iletrados e cai no mesmo erro das autoridades eclesiásticas que afirmam que não se pode tomar os textos bíblicos ao pé da letra. Ela não é teóloga, que se saiba, e se mete a tecer um enredo em que coloca sua experiência de vida com Deus como se fosse uma verdade acabada, para que outros a sigam. Seu ato só não é pior do que os crentes religiosos que se metem a falar de Ciência como se fossem cientistas, numa tentativa, às vezes, idiota de tentar explicar todos os fenômenos da vida e do universo através da religião ou do livro que a sustenta como fundamento.
Quanto a seus sete mitos:
O primeiro: “Deus está morto”. Ela não diz nada, comparando os níveis de consciência entre os humanos e os cães, que sem Deus os homens não encontram sentido para suas existências. Depois se apoiam em citações como a do xeque Jihad Hassan de que as pessoas já nascem com a crença em Deus, como um acessório do pacote trend do ser humano.
No segundo: O renascimento das religiões; a globalização atingiu as religiões, ela só se esqueceu de dizer que foi em termos econômicos, a venda de uma proposta de marketing em vez de uma proposta de vida, tem assegurado aos tele-pastores um crescimento assustador quase sempre ligados a falcatruas e passagem por páginas policiais. A busca das pessoas por inspiração mostra o desespero dos que não se adaptam ao mundo de consumo onde nem todos conseguem o essencial.
No terceiro: Uns crêem outros não, busca-se apoio no xeque novamente e ele afirma que Deus abandonou sua criação e que o mundo corre atrás do prejuízo de não se ter Deus.
Até parece que crer e não crer é uma coisa nova, a diferença de outros tempos é que se você se revela como ateu você não precisa mais enfrentar a Santa Inquisição. Se o que diz dom Dimas é verdade, quanto a sua fé, o mundo não precisaria de polícia, bastava a fé e todos viveriam em perfeita harmonia, (ver o relato de Dawkins sobre o Canadá de algumas décadas atrás).
No quarto: Deus e política, o presente nos mostra o Estado teocrático vencendo o secularismo no Vaticano e no Irã. É, Deus não combina com política, a não ser com a política do extermínio e da ocupação relatados em Êxodos e Números, no Velho Testamento.
No quinto: o nariz da escritora deve ter alcançado meio metro tranquilamente, Deus não semeia violência, com certeza ela não leu aquela parte da Bíblia em que Ele ordena a Moisés que execute os idólatras e será que aquela ação em Sodoma e Gomorra não foi uma pirotecnia celestial? Afinal Moisés não lançou sua ira aos adoradores do Bezerro de Ouro, aniquilando-os com as próprias Tábuas onde estava escrito “Não Matarás”? E que negócio é esse de imputar a culpa aos homens, com sua natureza humana violenta? Afinal nós temos ou não temos uma essência divina? Eu acho que do ponto de vista cristão, temos. Somos igualzinho ao Pai. Violentos por natureza.
No sexto:, ela não resiste e, como mulher, concorda que Deus e os religiosos são misóginos, ela concorda com o fato real de que Deus oprime as mulheres, mais uma vez eu recorro às Sagradas Escrituras onde há farto material e passagens em que as pobres mulheres daquela época são submetidas aos piores abusos e relegadas a uma subcondição de fazer inveja aos talebans afegãos.
No sétimo:, ela afirma que Ciência e religião são irmãs, podem viver em cooperação, são áreas distintas, em que uma é fruto da observação, do ensaio, da comprovação e outra de uma única coisa: da crença, um comportamento que a antropologia cultural trata como superstição.
Diz que a ciência não sabe lidar com temas como a própria vida ou a morte. E a Biologia? E a Psicologia? E a Medicina? E a Psiquiatria? Será que o conhecimento elaborado por essas áreas não servem para nada? Será que os papas, pastores e crentes de uma forma geral buscam só à Deus para se curarem?
Será que diante de um diagnóstico de uma doença grave eles se comportam como crentes ou como seres humanos? Ela credita somente à fé o trabalho de nos fazer entender a vida e a morte, e que todo o resto é razão. Tem razão, tudo é só razão, razão até mesmo para ter fé, como afirmava Santo Agostinho.
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