Inauguração da revitalização da praça do jardim velho

A retirada dos tapumes que cercavam as obras de revitalização da praça Dr. Durval Grossi foi, para os promotores da reforma, como um “abrem-se as cortinas” de uma grande e inesquecível peça teatral.

A partir desse momento, de dez em dez minutos uma saraivada de foguetes rompia o céu de brigadeiro de Raul Soares como se estivesse convidando mais e mais pessoas a comparecerem a esta grande festa.

Não estava tudo pronto ainda e os operários retocavam aqui e ali, procurando corrigir pequenos detalhes para exibir a obra com todo requinte que se imaginou. Afinal, foram mais de seis meses de trabalho e muito serviço teria que ser mostrado para não decepcionar a população, que aguardava ansiosa.

Próximo dali, na praça da Cultura, o palco de shows já estava pronto para acolher as autoridades convidadas e, provavelmente, alguma banda para encerrar tão magnificente (re) inauguração. Afinal, não é todo dia que se inaugura a revitalização de uma praça.

Apesar de ainda estar distante da hora da festa, vários ônibus provenientes dos distritos desembarcam estudantes que correm para conferir o que foi feito na reforma e já estréiam os bancos pisando no assento para conferir se a tinta é boa mesmo e não vai manchar a roupa branca reservada para as baladas de fins-de-semana.

E a saraivada de foguetes continua, como se fosse um teipe de estrondos que se repetem simetricamente, entoando uma música infernal para os ouvidos mais delicados, mais acostumados aos cânticos dos pássaros ou de uma bela sinfonia.

Já são 18:30h e estamos sentados confortavelmente na porta da Farmácia Santo Antônio, apreciando o movimento das crianças, enquanto os preparativos para a festa estão sendo executados.

Mais caixas de foguetes chegam e ficam estocadas num canto da farmácia.

Festa é assim mesmo, sempre tem alguma coisinha para arrumar, comentou o assessor Altivo (Japonês) tentando se justificar pela demora. (Aproveitando o gancho, Altivo será mesmo o vice na chapa do candidato à reeleição Vicente Barboza, segundo informações fidedignas).

E os ônibus vindos dos distritos continuam despejando convidados para todos os lados, para encher a praça e mostrar força política. Alguns, com direito a um “reforço” no Restaurante Tangará.

Segundo as palavras do Altivo, “dinheiro é para ser gasto com o povo”. Está certo. Eles também são filhos de Deus.

São 21:00h e a banda no palco da praça da Cultura manda ver com aquele som ensurdecedor, do jeito que a rapaziada gosta.

De certa forma, a revitalização do jardim deu nova vida à praça. Não porque o serviço ficou um primor, mas, principalmente, porque aquele tapume escondendo o jardim parecia presídio. Não do jardim, mas de nós mesmos. Nós é que nos sentíamos presos por fora, por não poder mais gritar por um amigo que estivesse passando do outro lado ou, quando apressados, encurtávamos o caminho cortando a praça no meio. Com a retirada dos tapumes, arrisco a dizer que qualquer praça ficaria mais bonita, mesmo sem reforma.

Por enquanto, as estrelas da festa se preparam para alçar vôo em busca de mais brilho, como mariposas espertas que jamais se aproximam das luzes artificiais, mortais para elas.

São 21:30 e o povo agora está sendo convocado para comparecer à cerimônia que será realizada no coreto da praça.

O final da história todo mundo já conhece. Abraços e falsas gentilezas são trocados, numa encenação corriqueira do mundo político, mas que certamente poderão render bons votos. É a política. É a vida.

Para nós, que já vimos esse filme várias vezes, nos entristece rever as mesmas cenas adulteradas pela postura intransigente e maliciosa de alguns políticos. A nostalgia, então, nos devolve aos bons tempos em que os verdadeiros políticos eram autênticos, líderes e, acima de tudo abertos ao diálogo.

A assistir a esses filmes, prefiro mesmo continuar curtindo a lua que brilha para todos sem exigir nada em troca, a não ser derramar seus finos raios de prata sobre as ervas que cobrem todos os jardins por esse mundo afora.