domingo, 14 de outubro de 2012

Sob o Domínio do Medo

Por Nélio Azevedo

cecilia_bizzottoHá poucos dias foi assassinada em Belo Horizonte uma pessoa que eu conhecia, ela foi uma espécie de paixão em segredo da infância do meu filho mais velho, o Caetano. A doce Cecília, ou Ciça, para os mais íntimos. Uma perda que enche os nossos corações de dor; uma dor que parece que estão arrancando um pedaço da gente; e, foi isso mesmo que aconteceu, arrancaram um pedaço dos pais e dos irmãos dela, arrancaram um pedaço das amigas Gabi e da Maria Júlia; deixaram uma criança órfã e arrancaram um pedaço do passado da memória afetiva do meu filho.

Quando a gente ouve ou lê uma notícia assim não consegue imaginar a dor dos parentes, os pais que sobrevivem aos filhos passam por um momento de dor que não sei se eu suportaria; faz-me lembrar duma frase dita por alguém que assimilou esse sentimento: “Nos tempos de paz os filhos enterram os pais, nos tempos de guerra, os pais enterram os filhos”. É justamente o que acontece nas cidades brasileiras, uma guerra onde a vítima preferida é o jovem.

Algumas pessoas não conseguem perceber a dimensão desse triste fato, estão alienadas ou ainda não experimentaram a dor de perder um parente ou amigo e, parece terem se acostumado com esses níveis altíssimos de violência desses tempos de guerra. Para completar, os órgãos responsáveis pela segurança pública não fazem o dever de casa. Os policiais entrevistados depois do crime jogaram a responsabilidade nas mãos dos cidadãos e um delegado aconselhou a todos se posicionar de costas ao entrar em casa e entrar de ré com o carro. Inacreditável! Esse é um conselho de um delegado que deveria nos trazer um alento ao demonstrar seu empenho na captura dos assassinos ou sei lá o quê. O que não pode é continuar esse massacre de jovens ou não teremos futuro.

Muitas pessoas estão preocupadas com o que iremos mostrar na Copa do Mundo, esse batalhão de mendigos pedintes que assolam as praças e ruas das cidades; os mortos-vivos das cracolândias tão comuns em vários pontos da cidade, ou será que vamos assistir a mais um processo de desinfecção como o que ocorreu na Eco-92, no Rio de Janeiro? Eu estou muito preocupado é com a nossa segurança, minha e da minha família que vivemos em uma casa e, as casas são os alvos preferidos dos ladrões que se sentem bem à vontade para nos assaltar e matar os moradores, depois a Secretaria de Defesa Social camufla os dados, nos escondendo a verdade que os números e as estatísticas desmentem esse oásis de tranquilidade que querem dizer que existe.

Quem sobreviver ao caos e a violência urbana verá!

3 comentários:

  1. Esperar que nossos legisladores dêem encaminhamento aos costumes de um povo, como apregoam os sensacionalistas que vivem das tragédias (como o Datena) é desviar o eixo da nossa formação. Nossa liderança trata, quando trata, de fatos consumados e não demonstram nenhum interesse nos rumos das nossas famílias. Estamos trocando as pessoas pelas coisas. Na busca da satisfação dos nossos sonhos de consumo, estamos relativizando a criação dos nossos filhos, deixando-os aos cuidados de terceiras pessoas, sem a experiência e os sentimnentos adequados à tarefa. E com a nossa busca desenfreada pelas coisas, vamos incutindo neles a sensação do conforto a qualquer preço.
    A violência, infelizmente, vem como consequência, já que os valores humanos não são difundidos. Lamento e ofereço um ombro humilde para que coloquem um pouquinho do peso que os magoa.
    Deixo um pequeno poema. Talvez ele possa abrir uma pequena fresta nas cortinas da escuridão da dor da família.


    QUEM SOU EU?
    Jaeder Teixeira Gomes


    Quem sou eu
    Para sorrir de um jeito inconfundível,
    Para abraçar de uma forma irrecusável,
    Pra proteger, o melhor que for possível
    E para amar com o amor imensurável?


    Quem sou eu
    Pra gerenciar todo o caminho do meu filho,
    Para ensinar todo o compêndio desta vida,
    Pra colocar os seus projetos sobre os trilhos,
    Pra conceder-lhe a batalha já vencida?


    Quem sou eu
    Para pinçar da humanidade só a virtude,
    Selecioná-la e plantar nos corações,
    Pra dar-lhe sombra, água fresca e saúde,
    Até que reine absoluta entre as nações?


    Quem sou eu
    Para ensinar que cada pedra, ao caminhar,
    É uma oficina de saber, se bem aceita.
    E quem sou eu para, afinal, determinar
    Se uma existência está pronta pra colheita?

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  2. Panis Et Circenses
    (Caetano Veloso)

    Eu quis cantar
    Minha canção iluminada de sol
    Soltei os panos sobre os mastros no ar
    Soltei os tigres e os leões nos quintais
    Mas as pessoas na sala de jantar
    São ocupadas em nascer e morrer

    Mandei fazer
    De puro aço luminoso um punhal
    Para matar o meu amor e matei
    Às cinco horas na avenida central
    Mas as pessoas na sala de jantar
    São ocupadas em nascer e morrer

    Mandei plantar
    Folhas de sonho no jardim do solar
    As folhas sabem procurar pelo sol
    E as raízes procurar, procurar

    Mas as pessoas na sala de jantar
    Essas pessoas na sala de jantar
    São as pessoas da sala de jantar
    Mas as pessoas na sala de jantar
    São ocupadas em nascer e morrer

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  3. Já diria o mestre Yoda: Alienados todos estamos.

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