Uma crônica do amigo e parceiro Jamir Lima, relembrando os tempos em que Raul Soares vivia de corpo e alma a Semana Santa
Primeiro, lembro da semana santa em Bicuíba, da quaresma, da via sacra. Recordo que tínhamos por hábito de toda quarta-feira comparecer à via sacra, rezando e percorrendo quadro por quadro.
Era o maior respeito pelo período da quaresma. Para começar, o Carnaval, para nós, terminava à meia-noite de terça-feira (zero hora da quarta), impreterivelmente. Achávamos uma falta de respeito entrar na quarta-feira em plena folia. Na minha convicção, naquele tempo, quem brincasse o carnaval no dia de cinzas não tinha como recebê-la nem fazer a cruz na testa.
No período da quaresma, não comíamos carne na quarta nem na sexta-feira. E minha mãe levava isso muito a sério. Uma disciplina religiosa!
Na semana santa propriamente dita os quadros religiosos da casa eram cobertos por um pano em sinal de respeito ao sofrimento de Cristo. Na quinta-feira santa, a partir do meio-dia, ninguém podia mais varrer a casa nem ouvir música mais "saliente". Na sexta-feira santa as rádios, de um modo geral, tocavam músicas clássicas em substituição à programação normal (o dia todo). O dia santo era guardado, mesmo!!!
Durante a semana santa, em Raul Soares havia na porta da igreja um palco feito para a apresentação dos chamados quadros-vivos, um teatro para dar realidade ao sofrimento e calvário de Cristo até ser sacrificado e crucificado.
Nos meus tempos de estudante em Manhuaçu, quando chegava a semana santa, íamos todos para Raul Soares, de camionete (na carroceria). Torcíamos para não haver muita poeira na estrada para não chegar "louro" lá na cidade.
Mas, era divertido! Tenho em minhas lembranças de que, em plena sexta-feira santa lá em Raul Soares, estando com fome comi um sanduíche de carne moída. Só me dei conta depois de ter "consumido" o dito-cujo! Que não podia comer carne!!!
A procissão na sexta-feira percorria a cidade. Todo mundo de vela acesa. Em todas elas queimei a mão não conseguindo controlar a cera quente, derretida, que caía. E sem contar aquela matraca barulhenta, persistente e assustadora!
No alto falante, o padre repetia à exaustão: "-meu pai, que te fiz eu?", levando todos à comoção.
A enorme fila dupla (de cada lado da rua) andava, ora rápida ora lentamente. Numa dessas acontecia de alguém ficar para trás arrumando sua vela e causando aquele "vácuo" na fileira. Quando se davam conta da "mancada" tinham de apressar o passo, quase correr.
O fogo das velas de vez em quando "queimava" o cabelo comprido de quem estava na frente e parava sem mais nem menos!
Em algumas procissões apareceu bêbado cantando fora do tom e do compasso, e, até um cavalo deu o ar da graça se soltando do cabresto e aprontando no meio da procissão.
Na passagem do andor, aquela música triste cantarolada pelo coral fazia muitos irem às lágrimas.
E havia uma disputa para pegar o raminho no esquife do senhor morto.
Numa dessas procissões, o padre resolveu "esticar" até a rua da zona. Foi um buchicho só e muito cochicho pelas "beatas" que achavam aquilo o maior escândalo. E o comentário pós-procissão durou por alguns longos meses.
Não preciso dizer nem acrescentar que gente vindo de todas as regiões vizinhas aproveitava o "ensejo" para engatar um namoro, quem sabe um casamento. O momento, apesar de nunca ser para essa finalidade, contribuía para a rapaziada e a mulherada aproveitar a oportunidade (única!).
O escurinho "convidativo" se alojava ali perto das lojas e farmácias, da esquina da Farmácia João XXIII até onde a Mercearia Entre Rios. Casais aos montes!!!
Para não prolongar muito, aqui fica um pequeno "depoimento" de quem viveu aqueles bons tempos de quaresma raul-soarense.
Inesquecíveis tempos!!!
Fonte: Blog Quando Tudo é Importante, do parceiro Jamir Lima
Poderia ter passado sem comentário...
ResponderExcluirinoportuno seu relato que pertence somente a vc com opinião subjetiva, chegando ser, preconceituoso ofensivo e desrespeitoso com quem viveu e vive esta semana SANTA com muita fé conforme a igreja católica. Sua desventura inopurtuna (aque vc chama de depoimento) ofende a quem tem melhores lembranças e não acrescenta nada... lamentável.
Na minha opinião, lamentável foi esse seu comentário "anônimo", inoportuno e preconceituoso. Nem precisava ser anônimo, pois o teor já indica de onde certamente partiu isso. O que o Jamir está oferecendo é um relato cristalino do que realmente aconteceu naquela época. Alguém jamais foi tão fiel quanto ele nessa crônica. Nada mais realista do que os lances que ele descreveu com pormenores. A história deve ser contada como ela é e não como gostaríamos que fosse. Mais lamentável ainda é ver o que o fanatismo religioso faz com as pessoas, transformando-as em robôs cegos e preconceituosos.
ExcluirMissitaus
VENHA PARA SÃO PEDRO DOS FERROS, POIS AQUI AINDA TEMOS A BELA ENCENAÇÃO NA SEXTA FEIRA DA PAIXAO AS 19H
ResponderExcluirEra assim mesmo Jamir,você descreveu direitinho e eu
ResponderExcluirme lembro que eu morria de medo daquela "matraca", pra
mim era uma tortura...A cidade ficava abarrotada de gente
e você descreveu isto tudo de uma forma bem legal e real.
Os fanáticos podem não concordar,mas é hipocrisia negar!
Antigamente era antigamente, hoje é hoje ! Antes era trabalho, casa e religião. Hoje é Rua, internet, novela, drogas, etc... E assim vai ...
ResponderExcluirJamir, você não sabe porque tudo isso acabou? é porque nosso padre só pensa em dinheiro e procissão não rende,mas veja como aumentou o número de bingos, até construíram acomodações melhores ao lado da igreja para os viciados em jogo,e assim segue,nossa igreja católica a cada dia mais vazia, lamentável.
ResponderExcluirprezado, vc deve se destas pessoas que nao participam de nada e so ficam criticando, va a igreja, participe da vida da comunidade, conheca os programas sociais que a igreja desenvolve e verá quanta bobagem escreveu.
ExcluirEra assim mesmo.Na minha opinião havia muito exagero, mas pelo menos trabalhava um pouco mais a religiosidade o que hoje está sendo deixada de lado.Hoje a preocupação é quem vai ganhar o maior ovo de páscoa, onde vamos passar o feriadão e aí vai...
ResponderExcluirParabens pela lembrança Jamir.
Ainda bem que hoje está sendo quem vai ganhar o maior ovo de páscoa e onde vamos passar o feriadão. É bem melhor! Ainda bem que eu moro nos chamados "tempos modernos" ....
ExcluirSerá? Eu já acho que nos tempos do Jamir era muito mais divertido. Só quem viveu essa época pode dizer qual dos dois seria o melhor.
ExcluirE vc é de que época?
ExcluirEm qual época vc se situa?
Tinha exagero, mas era bom de mais!
ResponderExcluirE não achei também que o Jamir tenha falado nada demais.São
lembranças sérias,mas que tinha o seu lado engraçado,que só
depois que passa é que a gente se dá conta.Eu enquanto lia
o texto do Jamir ri tanto de algumas lembranças aqui...
Você descreveu muito bem, mas quero expressar algo mais já que você resgatou minhas lembranças. Eu era criança e achava muito triste acompanhar a procissão do senhor morto, mais triste eu ficava no domingo de Páscoa. Após a missa, os filhos dos riquinhos de Raul Soares comentavam sobre os seus ovos e eu nem sabia o que era isso.
ResponderExcluirNa minha casa também não tinha ovo de páscoa,mas
ResponderExcluirminha mãe fazia um arroz doce delicioso no dia e acho que
ninguém ficou "traumatizado" não, a gente gostava muito!!
OOoo tempo bom que nao volta mais. Eu com meus avos na janela so esperando a procisao passar. Raul soares deveria ter dado continuidade aos festejos que tanto nos orgulhavam. Mas nao, hoje a coisa e descer ate o chao, fumar, cheirar, sexo explicito.
ResponderExcluirUma vez eu fiquei esperando até dar meia noite para
ResponderExcluircomer um bife,minha mãe chegou na cozinha e quase deu
um treco de tanto rir de mim!!
Hoje fiquei escutando uns foguetes e pensei que
ResponderExcluirainda bem que o Jamir mora bem longe,senão os
fanáticos iam querer queimar ele feito Judas!!!!!!!
(brincadeira Jamir,que Deus abençoe você)!
Maravilhosa a crônica, e me fez recordar de muitas lembranças vividas naquela época, tempo bom viu... mas nem por isso deixei de rezar e acompanhar as rezas , mas que dá uma saudadezinha gostosa daquela época ha!!! isso sim viu..
ResponderExcluirsim, naquele tempo havia as rezas e leilõe, era muito bom.
ResponderExcluirHOJE EM DIA TEM BINGO,VOCÊ PODE IR LÁ O ANO
ResponderExcluirINTEIRO,TODAS AS NOITES,QUE TEM!!!!!!!!!!!!!
parabéns Jamir, tudo isso que falou recordo muito bem e que saudades...com sinceridade deu uma dorzinha no meu peito ....mesmo assim como é bom relembrar - só quem viveu esse tempo pode dizer que a gente era tão feliz e não sabia- alguem disse que morria de medo da matraca- eu tinha medo é das 03 Veronicas- toda de preto, veu preto tampando o rosto- nossa eu quase morria ao ver as tres mas como era bom- sou meio masoquista- gosto de sofrer -adoro recordar essa época boa de Raul Soares- falo para meus filhos que eles não tem historia para contar- a como Raul já foi bom.....
ResponderExcluirpascoal vc tem as foto da semana santa de raul soares para eu colocar no neu blog se vc tiver as eu vou ficar muito agradecido pu vc muito obrigado Guilherme A SAntana
ResponderExcluirNão tenho. Infelizmente, não temos mais Semana Santa ao vivo em Raul Soares.
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